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Embora sempre me tenha sentido vocacionado para comunicar, tal não se traduziu na minha paixão pelo curso que me permitiu ter um canudo que, no mundo dos egos, legitimaria o meu caminho como comunicador. Ainda assim, houve determinadas aprendizagens que fiz na faculdade que me ficaram para sempre. Uma delas foi a de que o verbo “comunicar” tinha, nas raízes da
sua origem latina, o significado “pôr em comum”. E é mesmo isso que tento fazer, de cada vez que comunico: pôr em comum tudo o que nos aproxime. É com essa intenção que visito as escolas do país. Foi sempre com essa intenção que visitei as escolas de Ovar.Falar de amor é abrir a porta para falar de tudo. É de amor que falo, quando abro as palestras com a partilha do que vivi junto da minha Tia Guida, a mãe de alma que a vida me deu, para além da minha. Alguém que perdi
para um cancro, mas que nunca perdi do amor com que a recordo e que nunca se perdeu do amor com que de mim se despediu. É o amor que nos une aos que já partiram. É o amor que nos une aos que ainda cá estão. Mesmo aos que nos são desconhecidos.

Prova disso é o que se passa sempre no segundo momento das palestras. Aquele em que os alunos se tornam protagonistas, com as perguntas e as partilhas que tenham para “pôr em comum”. São sempre esses os momentos que mais gosto. Aprendo muito com os estudantes que conheço pelo país. E confirmo, nas escolas de Portugal, que na escola da vida, independentemente das idades, todos somos professores e alunos. Quantos mestres de quinze anos (ou menos!) eu já não conheci, nas salas de aula que acolhem as minhas sessões? Que orgulho tenho neles. Esta juventude vai transformar o mundo, assim o Ministério deixe que as escolas acompanhem a necessidade que nela existe de se educar para, sobre e na emoção.

Nesse momento de perguntas e partilhas, a sensação de sermos estranhos dissipa-se. Somos todos humanos. E, como humanos que somos, todos nos conseguimos entender na empatia da cada pergunta e partilha feitas. É isso que o amor permite. Vermo-nos no outro como se o outro fôssemos nós mesmos. Até em situações que nunca vivemos. E do tema inicial do cancro e da perda brotam outros, porque o amor é inclusivo e tudo acolhe, sem julgar. Violência doméstica, violência no namoro, bullying, dilemas de realização profissional e mesmo reflexões espirituais encontram palco na curiosidade ou na sabedoria de jovens que, vezes e vezes sem conta, me provam que esta será a escola do futuro: a escola das emoções.

O que vivemos ali não é uma terapia… mas é muito terapêutico. Tem sido assim, nestes 7 anos de estrada. Foi assim, há uns dias, quando revisitei Ovar.

E se para lá vou com a intenção de dar Amor… de lá venho sempre com o Amor que recebi a transbordar.

Partilhar cura. E quanto mais cedo melhor.

Obrigado, Escola Secundária José Macedo Fragateiro, por serem palco de partilhas de cura em amor.

André Fernandes

( 05/05/21)